segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Dia de pedir socorro

Samanta Sallum e Jorge de Castro
Da equipe do Correio Braziliense

Reconhecer o abandono dos serviços públicos no Entorno e jogar a causa do problema para o Distrito Federal, que cresce de forma desordenada em decorrência da migração que atrai por ser capital da República. Assim, o Governo de Goiás construiu as justificativas para pedir o apoio da Força Nacional de Segurança (FNS). O pedido será entregue oficialmente hoje de manhã ao ministro da Justiça, Tarso Genro. Em outras palavras, o estado vizinho diz que a população e as necessidades do Entorno aumentaram por culpa de Brasília. A capital atrairia muita gente e expulsaria os mais pobres, que não têm condições de enfrentar o alto custo de vida. Estes, sem outra alternativa, se abrigam nas cidades de Goiás. O jogo de empurra é feito para sensibilizar o governo federal, convencendo-o de que Goiás precisa de mais verbas da União. No entanto, o governo vizinho não lembra que o Distrito Federal já arca com parte desse ônus ao atender no seu sistema de saúde pública a população do Entorno. E que o pedido de apoio da Força Nacional vem somente agora, sob pressão da sociedade, devido à repercussão do atentado sofrido pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. na noite da quarta-feira. O repórter foi atingido por um tiro num bar na Cidade Ocidental (GO), onde continuava a apuração da série de reportagens que escancarava os crimes cometidos pela rede do tráfico de drogas na região. Goiás se apresenta sem condições financeiras, materiais e humanas para enfrentar a situação. Realidade que não é recente. A situação das cidades do Entorno há anos é denunciada pela imprensa e por entidades de defesa dos Direitos Humanos. Com poucos policiais e institutos de Medicina Legal (IMLs) que mal funcionam, a ponto de corpos ficarem mais de 10 horas à espera para serem removidos (leia mais na página 17), no Entorno faltam delegados, promotores e juizes. A região carece de infra-estrutura, empregos, educação, saúde e lazer. “Esse incremento populacional não planejado supera a capacidade estatal de prover medidas sociais à região, surgindo então bolsões de miséria e de criminalidade”, destaca o governo goiano no documento a ser entregue hoje. Recursos O estado vizinho reclama também do tratamento diferenciado no orçamento da União entre DF e Goiás. “Fronteiras imaginárias dividem territórios de contextos socioeconômicos idênticos, mas com aportes de recursos financeiros absolutamente diferentes — extremamente favoráveis ao DF e igualmente desfavoráveis à região do Entorno, no Estado de Goiás” , diz o documento. O governador do DF, José Roberto Arruda, se comprometeu a pagar os custos de alimentação e alojamento da Força Nacional de Segurança, aqueles gastos que não são cobertos pelo governo federal. “Já temos uma avaliação preliminar e temos uma reserva de contigência no orçamento e é ela que vai bancar as despesas”, afirmou Arruda. “Não queremos tirar um centavo do DF, queremos apenas um tratamento melhor por parte da União”, diz o secretário de Segurança de Goiás, Ernesto Roller. O GDF nos últimos anos fez investimentos na região, principalmente em Águas Lindas (GO), no setor de saneamento básico e buscando parcerias com estado vizinho. O governo de Goiás explica que está fazendo sua parte: abriu concurso público para cargos na Polícia Civil, está entregando 172 viaturas e tem apresentado projetos ao governo federal para reverter o cenário no Entorno. A preocupação é que no momento em que a FNS deixe o lugar, tudo fique como antes. “Precisamos de projetos a longo e médio prazo”, diz Roller. Goiás pede 500 homens, por 180 dias, a partir de 9 de outubro e que a ocupação pela Força Nacional comece por Luziânia, Valparaíso, Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Formosa, Planaltina de Goiás e Cidade Ocidental. O foco de atuação dos soldados será o narcotráfico, homicídios e crimes patrimoniais. Além disso, será elaborada uma lista com os criminosos mais procurados do Entorno. Controle Nos centros urbanos a Força Nacional fará um policiamento preventivo que facilite o contato e conquiste a simpatia da população. As entradas e saídas de municípios passarão a ser controladas. A redução do consumo de drogas e bebidas alcóolicas e a inibição de funcionamento de casas de jogo encontram-se entre os objetivos da FNS. Para o delegado regional de Luziânia, José Luiz Martins, o apoio da tropa de elite é fundamental. “Se a polícia não está dando conta da demanda é porque está faltando alguma coisa. Essa crise não é conjuntural, mas estrutural”, afirmou o delegado, referindo-se à falta de infra-estrutura e recursos destinados à região. Segundo ele, os militares não trabalharão na investigação sobre o atentado contra o jornalista. “O objetivo deles é na prevenção e na parte ostensiva”, definiu Martins. Para dar conta do aumento das prisões que devem ocorrer enquanto os militares estiveram no Entorno, o delegado adiantou que irá remanejar policiais civis de outras unidades para as regiões em que a Força Nacional estiver atuando. No mesmo dia em que o pedido for oficializado junto ao Ministério, o secretário de Segurança de Goiás, Ernesto Roller, estará em Formosa, onde participa da entrega de viaturas para as polícias Militar, Civil e Técnico-Científica. Ao longo da semana, o secretário visitará 12 municípios goianos que receberão, ao todo, 172 veículos novos. A passagem dele pela Cidade Ocidental, cidade onde ocorreu o ataque ao jornalista Amaury Ribeiro Jr., está marcada para a próxima quarta-feira.

Um comentário:

Sol disse...

nunca mais voce me visitou....
senti sua falta........